quinta-feira, janeiro 18, 2007

Silêncio de Uma Visão Calada

Fico calado porque não tenho escolha!
Palavras não faltam, mas tudo molha.
As lágrimas molham a alma cansada
de tentar reconstruir o destruído.
Caiu uma ponte, nasceu uma parede.
No interior, mudo, escuto o ruído
daquele que bate forte em cada parada
do suplício insano. De muita sede!
Balbuciar, clamar, de nada adiantaria.
O silêncio é meu amigo, a calmaria.
Olho os vestígios, espalhados no chão, tudo inútil.
Aquilo que foi tão grande, agora me parece fútil.
Face molhada. Parado. Contemplo a implosão.
Destroçado, passeio no fundo do poço de palavras acumuladas.
Sento, penso, senso. Bom juízo a mudez. Assim fico são.
Verbalizar de nada iria adiantar. Já tá tudo no chão.
Pedaços pequenos, simples, de estórias inacabadas
de um mesmo autor. Só um autor, que tirou o "hi" e colocou
o "e" forçadamente. Desiludido. Sem acreditar que tudo mudou.
Sem conseguir acreditar que os dias da ponte, que pareciam tão reais,
não passavam de um arco-íris, de grandes ilusões individuais.
O outro lado nunca existira. Era apenas um reflexo do que ele queria.
Aquele outro lado era falso, fugaz, indiferente. Coisas que ele nunca imaginara.
Depois de tanta força, em vão, ele largou a ponte. Continuar já não conseguiria.
Sustentar sozinho. O arco-íris preto-e-branco. Ferida. Arguarda que sara.
Recluso permaneço. Trêmulo. Subo as paredes do poço, silente, cheio de medo!
Da queda, aprendo. Do poço, cresço. Na parede só fica a marca, do dedo!
No silêncio, a cicatriz da decepção. No olhar, o horizonte. Escrever. Saber.
As cores nascem da limpidez. Do que é nítido, puro. E disso nasce a vontade
de construir a ponte, de firmar a aliança. Assim, não morre a esperança.
A luz branca de meu peito partido refletirá no espelho alvo da sinceridade
do seio nu, verdadeiro, sagaz em construir a ponte mais complexa da vida...
...a do amor.