segunda-feira, setembro 18, 2006

Prédios e Abraços

Na fumaça que agora cobre as ruas dessa cidade,
eu mergulho os olhos imaginando o cotidiano.
A rotina, a transformação de todas as coisas.
A música rude da urbanização
misturada com notas suaves da natureza.
O roncar dos carros rasgando as ruas.
O doce balançar das folhas das mangueiras.
Ela pode ser bonita, ela pode ser feia. Depende de mim.
Assim como a sua rotina. Eu quero a rotina.
Quero transformar, fazer presente o sorriso, o abraço e o beijo.
Nas testas, nos rostos e nas mãos. Sem fumaça nessa relação.
Sem a fumaça da metropolização, que esfria, que constrói os prédios
entre os seres humanos, em cada "bom dia", em cada abraço!
Corro, quero voar, passear sobre as propagandas.
Comercializar a ajuda. Dar risos ao invés de dinheiro.
Isso mesmo, eu entrego o sistema. Ele esfria, ele seca.
Não quero fazer críticas.Não quero ser revolucionário.
Nada assim. Esqueçam. Quero beber alegria. Espalhafatosamente.
Minha carteira está cheia de gargalhadas, eu tenho abraços de crédito.
Da minha conta, o dinheiro foi corrente, agora ela é sorridente.
Só desejo mergulhar, respirar a essência doce de cada ser,
provando o mel de cada peito, de cada aperto de mão.
Ouvindo a brisa nas folhas da minha natureza humana
enquanto deslizo pelas ruas iluminadas das minhas veias.
E, assim, quando a luz me for embora, eu seja imortal
em cada amigo. E que, ao perguntarem por mim, eles digam:
"Riu, bebeu, amou e a natureza de sua alma o sistema não urbanizou!"

terça-feira, setembro 12, 2006

Lucidez

Antes de fechar os olhos, quero sonhar.
Não um sonho fraco, apagado ou distante.
Um sonho lúcido! No qual eu possa fazer presente
o que segura meu peito agora. É tudo incerto, sei!
Mas é no sim, no não e no talvez que há beleza na vida.
Sentar e apreciar. Olhar. Esperar. Simples obra do acaso.
Espelhar o que é invisível para todos. O que eu consigo enxergar.
Não uma imagem perfeita. Uma que eu possa segurar e levar
ao meu sonho. E ir, ao seu sonho. E delirarmos, inebriados, entorpecidos
por refletirmos a essência primitiva do sentido de existir.
No nascente e no poente,
acordar...
ela ainda lá,
Eu nela e ela em mim.

domingo, setembro 10, 2006

Hoje não falarei de amor, de traição, de saudosismo. Não!
Não quero saber de suspiros lascivos, de culpa, de pureza.
Apenas observo os homens passeando pelas ruas.
Os HOMENS, os homens e os HomenS.
A humanidade, o humanismo, o humanitário e o humano.
Coisa feia ficar definindo tudo! Palavras não se definem!
Palavras se sentem. Levem para longe o Aurélio.
Eu quero saber daqui, da onomatopéia, do que sentimos.
Isso, ele mesmo, que escutamos.
Eu quero pegar na mão. Quero abraçar. Quero amar.
Não somente uma mulher, mas todos meus companheiros:
o humano, a humanidade, o humanismo e o humanitário.
E tudo dentro de si é tão confuso que o olhar faz-se torto!
E assim, sou impedido de sentir. Só escutar.
Eu não quero nada disso. Só a confusão.
Quero falar a língua desconhecida, pré-histórica.
Quero rugir. Quero o contato primitivo.
Quero a vida...ela apenas
sem mais definições...

quinta-feira, setembro 07, 2006

Eternos Heróis

Tarde qualquer, observando o sol indo embora pela janela,
que me lembro de tudo, com doce penar.
Olhando os pêlos nos meus braços, através da imagem aquarela.
Passou e restou, pouco! Do que em mim era puro e ingênuo. Recordar.
O que outrora fui e se perdeu. Meu barco de papel afundou no oceano
de lágrimas, junto à minha lancheira. Acabou o tempo do meu recreio.
Os monstros agora não passam de bonecos. Bonecos!Ah, os bonecos daqueles anos.
Todos se foram. Pouco daquilo sobrou. Agora, tenho que ser soldado sem receio.
Minha cabeça de papel queimou, amassou, pelo ralo do tempo escoou.
Obrigação hoje é trabalhar para comprar meu lanchinho, porque já sou fortinho!
E a energia, antes abundante, hoje se faz escassa. Olhos de quem um dia chorou
esperando o pai na escola. Senhoras e senhores, ninguém já bate à minha porta!
"Põe a mão no chão!", já não parte de meus coleguinhas. Só ladrão!
Hoje, sem atenção, eu só escuto o "Vai pro olho da rua..." do patrão!
Ah, queria eu ser ciente de tudo isso naquele tempo! Naquele tempo em que a ânsia
aparecia no Natal, que as feridas eram de quedas na rua e que tudo parecia grande!
Caminho em direção ao espelho, procurando por um rosto sem barba, sem olheira, sem relógio...
Quem sabe, ele ainda esteja ali, no fundo da minha retina...rindo, pulando, suando!
E vai continuar lá, se eu quiser. Porque na adoleta da vida, o que enxergo no espelho é só
o reflexo de um menino fantasiado de adulto, brincando...