domingo, junho 17, 2012

Mágicas

Quem poderá palavrear a magia que emana das mulheres que cruzam meu caminho?
Paixões diversas, lutos passageiros, amores repentinos.
Elas cruzam meu caminho e palpitam meu ser em pequenos desatinos.


Às vezes, é só um sorriso que me fascina e me embala em delírios vãos.
Outras, é a música dos cabelos, dos movimentos, das curvas tácitas sob as roupas desataviadas.
Vezes há que a poesia me é tão intensa que, feito louco, sou levado a flutuar em grandes devaneios de minha mente libidinosa.


Um riso que eu possa beijar.
Uma voz suave, macia aos meus ouvidos. Aroma dos olhos. Tato das coxas. 
Apenas o observar de um mágico caminhar.
E cantar meus versos nesses detalhes voluptuosos a hipnotizarem meu desorganizado raciocínio.


Alucinado, sem siso, saboreio mil mulheres em meus pensamentos perdidos:
A modelo de cabelos.
A modelo de pés.
A modelo de olhar atrás dos óculos.
A modelo de sorriso com buraquinho na bochecha.


São tantas! E tão diferentes, que vontade imensa me domina e navego em projeções várias
Gozos infinitos, somente com meu lúbrico imaginário.


E guardo na memória o gosto indizível dos lábios, do sexo e do amor... eternos e momentâneos...
... das mulheres que cruzam o meu caminho. 

quarta-feira, junho 06, 2012

Trilha de Lígia


“Ôooii!!!”, disse-me ela, cutucando-me pelas costas.
Estava a contemplar o sol matinal infiltrado nas folhas das árvores que adornam o parque laje quando fui surpreendido por Lígia.
“Lígia! Que surpresa boa!”
“  Acabei de chegar. Tava procurando por uma mesa quando te avistei, de longe. Nem acreditei! Você não é muito de vir tomar café aqui.”
“ Bom, tenho tentado inserir hábitos mais saudáveis na minha rotina. Aquela vida de notívago estava me destruindo. E, veja só, no meu primeiro domingo aqui no parque e já te encontrei. Vamos tomar café juntos? Ou tá acompanhada?”
“Não, não. Vim sozinha mesmo. Convidei uma amiga mas ela não quis. Graças a Deus te encontrei. Odeio comer sozinha!”, disse ela, sorrindo lindamente.
Lígia tinha sido minha colega de turma em um curso intensivo de espanhol que acabara há 4 meses. Em nossa primeira conversa concluí que minha amizade com ela seria algo perigoso para nós dois. A sintonia tanto intelectual quanto física era inevitável, magnética, uma das melhores sensações que já senti com uma mulher.  Puxei a cadeira para ela sentar. Durante o ato pude contemplar, disfarçadamente, o corpo de Lígia movendo-se, vestido com aquela roupa que as mulheres costumam usar para praticar atividades físicas. Linda, linda.
“Saudade, sabia?”, disse eu, com uma carícia em seu ombro.
“Ah, Tarcísio, você sumiu. Não sai mais com o pessoal. Eu, quando não to atarefada, procuro sempre ir.”
Pessoal, que ela se referia, era uns colegas nossos. Turma que formamos durante o curso. No início eu gostava de sair com eles, noites boêmias de conversas inúteis e assuntos superficiais. Minha motivação maior era saber que Lígia estaria presente.
“Tenho estado meio enrolado no trabalho ultimamente, além do mais, venho refletindo muito sobre minha vida. Mas isso não vem ao caso. O que você acha de fazermos a trilha?”
“Vim justamente pronta para isso!”, disse ela, animada.
Durante a caminhada, deixo Lígia ir na minha frente com a desculpa de que eu não conhecia bem o caminho. Doce mentira. Enquanto ela subia a trilha, eu, com um sorriso cínico, ia contemplando as nuances de seus movimentos. As gotas de suor que escorriam poeticamente pelo seu rosto, depois pelo pescoço, chegando por dentro da blusa decotada até os seios, que eu já imaginara diversas vezes em minha mente  devassa numa tentativa de obter respostas daquele, ainda, desconhecido mundo. Mamilos rosados? Cor da pele? Aureola grande ou pequena? Redondos ou elípticos? Qual o tamanho exato? Será que caberiam inteiros na minha boca? E as nádegas? Duas metades de uma perfeição complexa. Pareciam dançar para mim, me chamando: “Tarcísio, vem cá, estamos precisando de carinho. Vem nos beijar. Dá-nos mordidinhas!”. Flutuava nesses devaneios quando chegamos ao topo do mirante. De lá dava para admirar uma boa parte da cidade do Rio de Janeiro, porém, meus olhos eram de Lígia.
Enquanto ela, sorridente e faceira, mirava a paisagem, eu a lambia com os olhos. Tinha o rosto lindo, cada detalhe, cada pequeno detalhe daquela face era lapidado, milimetricamente acertado pelo criador. Aos meus olhos, Lígia era superior aos traços de Vênus ou Afrodite.
Meus hormônios me coagiam, me incitavam ao ataque. Lembro que pus a mão delicadamente em seu ombro, ela olhou para mim, ajeitando a franja que descia pelo seu rosto. Eu sorri. Mirei seus lábios.
“Tinha esquecido o quanto te acho linda.”
“Ah, Císio, para com isso. Vai me deixar sem graça.” Ela já estava. O rosto coradinho.
“Por que nunca ficamos? Sei que essa vontade não é unilateral.”
“Você era noivo, ía casar. E eu já cansei de me arriscar e acabar quebrando a cara.”
“Agora eu estou solteiro.”
“Por que não me procurou antes?”
“Alimentei por tantos meses esse sentimento que ele esmaeceu, acabei achando uma gaveta em meu interior para guardá-lo. De vez em quando eu o tirava de lá e o examinava.”
“Quando foi a última vez que fez isso?”
“Há alguns segundos.”
“E?”
Eu, já quase para jogar-me sobre ela: “Acho que não cabe mais na gaveta.”
Ficamos alguns segundos olhando um para o outro. Aproximei meu rosto do dela e ali, tendo a cidade do Rio como testemunha, fiz várias carícias com meu nariz e boca, nos seus olhos, nas bochechas, na fronte, inebriado, bêbado dela. Vertiginosamente, li o riso em seus lábios com a minha boca. Há tempos que tamanha embriaguez não me consumia. Que coisa mais bela de se sentir!
“Você é poesia, Lígia.”
“Então, me recita. Agora.”
Num movimento inesperado, belo, ela tira a blusa. Tive uma espécie de iminência de síncope ao ver, tão de perto, os mamilos lindos. Depois foi a calça. E a calcinha. E finalmente a nudez total, antes desconhecida, presente apenas em confabulações diversas de meu imaginário, agora oferecia-se gratuitamente ao meu universo real. Epifania...
Aproximei-me, já nu, e resolvi ficar ali, bem de perto, um olhando pro outro, dando azo àquele frenesi do prelúdio sexual, numa tentativa tântrica de prolongar ao máximo aquele prazer inefável.
Lígia, fatalmente, era um soneto parnasiano, sem nenhum desvio de rima ou de métrica. Era a perfeição poética em sua mais pura forma.
Taquicárdico, aproximei-me dos seus seios e, bem próximo, envolto pela curiosidade que me consumia de sentir aquele gosto...
“Vamos tomar café!”
Afastei-me, com uma expressão de que não havia compreendido. Olhei para ela e novamente:
“Amor!”
E acordei. Não era Lígia, era Renata, minha esposa, trazendo-me o café da manhã na cama.
“Preguiçoso. O sábado tá lindo e você aí dormindo.”, disse, beijando-me o rosto.
Tomei o café escutando seus planos para o nosso sábado. Depois foi tomar banho. Levantei e caminhei até a janela do quarto. Na Av. Epitácio Pessoa alguns caminhavam, outros corriam, carros passando. Baixei a cabeça, lasso, conformado com a ideia de que a poesia de Lígia estava sendo lida, naquele exato momento, em algum lugar da cidade do Rio de Janeiro. 

Aquele Beijo

A música entoava o mais belo gole de minha cerveja

Era tu, Leila, a dançarina permeando meu horizonte.


Não era seco, não era árido, gosto quase indizível

Teu em meus lábios.

Lancinante, astros, em doses de saliva 

Nos traduzíamos.

Língua fremente, hálito cálido, calando meu ego, tua voz,

Teu gozo rápido.

Libido desfigurada num só ato.


Sexo labial.


Teu beijo, Leila, memorável!

Ilógicos


O resultado de minhas equações, hoje, são inexatos.
Perdi a capacidade de achar soluções.
Meus teoremas são inválidos.
Meu “dois mais dois” não é igual a “quatro”
 e minha figura geométrica não é mais o quadrado.

Vieste durante a resolução de um problema e criaste outro.
Surgiu-me nova incógnita,
fiquei em alvoroço.

Como achar números se agora tudo me é ilógico?
Como ser inteiro se agora estou dividido?

Não multiplico e nem subtraio.
Somo dúvidas e dividendos. Extraio
da raiz do meu peito número irracional.
Meu cálculo é ineficaz, pobre, banal.
Somente rascunhos vis de um ser desordenado.

Foste além do meu limite e anulaste meu determinante.
Derivaste em minha mente um polinômio de números primos.
Que eu teimo em fazer pares.
Por sermos ímpares, um ao outro, sem báskara, sem matriz.
 Somente esses sinais que nos atraem
 nos tiram do conjunto e nos põe em desacordo.

Contra toda lógica, todas fórmulas, todas réplicas e súplicas.
 Somos ímpares. Somos dízima periódica.

Tentei analisar-nos em combinatória
porém nem a permutação restou-nos nessa vida de cálculos.
Pois que a vida, na matemática de nossa natureza humana,
nos cria essas Probabilidades de combinação desordenadas.

Resta-me tua geometria analítica ou plana.
Ainda a espacial, distância entre dois pontos,
 Função exponencial.
 E, ainda assim, não chego ao nosso final!
Então, solto meu lápis, meus rascunhos, todos os fatores que permuto
e flutuo...pairo...
... como a te contemplar nas resultantes de meu charuto.