terça-feira, fevereiro 24, 2009

Hedonista Pueril

Pairo sobre a madrugada com olhos pesados, de ressaca serenos.
Uma concomitância digna do turbilhão de pensamentos.
Faço-me despido de toda civilização, quedo em desatino,
sem seguro, sem razão.

E quando me estouro em regresso de atos passados,
não me recordo de fatos, não me engano em progressos.
Se na ventura começo, a refazer o que faço, no meu presente descaso,
num sentimento pregresso.

Seguindo suave o que sempre condiz com o meu desalento,
com o que me perdiz, reconstruo o meu fardo, com força motriz,
refaço, de fato, o que me deixa feliz.

Calado no ar, pairo sem pensar, atribulado e barulhento.
Atônito, embevecido, o universo feminino a me conquistar.
Embriagado de mel, seguro no vento, mirando meu céu, encontro meu lugar.

Caminho, a flutuar, em devaneios, quase sempre em meio, de ventres, de peles,
corrompido em pedaços de corpos alheios de ninfas, de musas, feito um pelego.
E meu paladar emudece, sucumbe, se perde nos bustos, nas vestes que ainda recobrem as curvas, as coxas, os seios redondos, os segredos das moças.

E num rasgo delicado, os panos, os trapos, lavados de febre, revelam à língua libidinosa e serelepe, os lindos mamilos, as ternas nádegas, os lábios que cedem ao trêmulo beijo.
Assim sou desejo, funesto, devasso, eu me perco e me acho nas pernas abertas, nas nucas cheirosas, nas carnes das fêmeas. Dançando em melodia o meu tato macio,
eu verto néctar, pondo em cio, corpos de mulheres, como um hedonista pueril.

domingo, fevereiro 22, 2009

Ausênpresença

Pensando sobre o novo velho, digo estar perdido.
Se me fazes perder o sentido, a razão, me confundindo.
Ciente da partida, aceito o inaceitável. Sabendo do estabelecido:
és de fato o que poderia ter sido, que não era, mas que um dia foi.
E, em desatino, vago pela madrugada, a despertar as sensações.
Aquelas que outrora senti contigo. As de quando, a dormir, exalavas,
a sorrir, me embriagava. Encantando, como um louco, esse menino.
Não é de minha vontade estar em ti novamente, pois me faria vão.
Eu me refaço diariamente em nós, para lembrar de nossa doçura,
para não esquecer de nosso carisma. E te deixo, assim...passeando...
És mais linda em mim quando te vejo em paz, toda de branco.
Emergindo no meu ser como a luz e a vida, leve como o silêncio da madrugada.
Assim, a saudade é serena, a dor flutuante e tua presença constante.
Não te quero esquecer, pois em mim a metafísica estaria terminada.
E toda a crença de recriar, reinventar, na tua voz, na tua pele, seria inutilizada.
Já que é só nos momentos de tua lembrança, que vive em mim toda a certeza.
Assim, te entrego ao ar que passeia em nosso meio, para que possas alçar teu vôo.
E desabrochar para minha solidão, somente essa pluma, somente a suavidade da tua mão.
A saudade não seria mais um fato, apenas o passado. E eu seria presente, vivo para
pairar, sorrir, em um novo estado de crença, um novo alguém na lembrança.