domingo, dezembro 03, 2006

Casulo

Era na conversa o meu descanso
quando rindo junto eu te escutava, coisas banais e singelas.
Como tu, menina, como tu tuas palavras eram.
Eu apenas esmorecia perante teu riso manso,
Inebriado em tuas qualidades belas.
Recluso no silêncio do meu sono.
Mirando apenas tua boca perto.
No embaraço que ardia em meu peito inquieto,
me enbriagava em teu arcano enquanto,
procurava,insano, provar o fel mais certo.
Foi quando num olhar, num detalhe, num quase nada,
mirificaste a vontade mais recôndita,
suplicando pelo meu impulso.
Implorando pelo meu desejo.
Encerrando teus lábios com o meu beijo.
Meu coração riu, minha boca chorou.
Feliz, meus olhos gritaram, alegre,
nossos peitos cerraram.
Entorpecido, meu corpo,
ávido por consumar o mais perfeito momento,

me acordou do mais perfeito sonho.
E eu,menina , envenenado pelo sentimento,
permaneci deitado, sorrindo extasiado,
enquanto teu gosto ainda corria
pelo meu lábio trêmulo e molhado.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Tum Tá

Bum! Finalmente retornara ao ponto de partida.O andar de lado, arrastado e cansado. Nada que o "ado" tornaria bonito, nada que o branco tornaria feio. Tira e põe na tábua de carne. Corta em pedaços. Bate no liquidificador, é coerente, liquidifica a dor. Bebe, digere o indigesto. Engole goela abaixo. Mas levanta. Segue! É o andar pela primeira vez, correr, conseguir o equilíbrio na bicicleta. É passar no vestibular. É a primeira noite. Todos vêm e passam, mas ficam da maneira que deve ficar. Ele era mais singelo e puro que os outros e, nem por causa da experiência adquirida perdera aquilo. O músculo cresceu, assim, a força também. Bate na parede que te castigou, esmurra com tudo que te dói até não doer mais. E, depois disso, procura mais dor. Te enche, aproveita a grandeza, mas esvazia depois. Procura a sensatez...na pequenez.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Prédios e Abraços

Na fumaça que agora cobre as ruas dessa cidade,
eu mergulho os olhos imaginando o cotidiano.
A rotina, a transformação de todas as coisas.
A música rude da urbanização
misturada com notas suaves da natureza.
O roncar dos carros rasgando as ruas.
O doce balançar das folhas das mangueiras.
Ela pode ser bonita, ela pode ser feia. Depende de mim.
Assim como a sua rotina. Eu quero a rotina.
Quero transformar, fazer presente o sorriso, o abraço e o beijo.
Nas testas, nos rostos e nas mãos. Sem fumaça nessa relação.
Sem a fumaça da metropolização, que esfria, que constrói os prédios
entre os seres humanos, em cada "bom dia", em cada abraço!
Corro, quero voar, passear sobre as propagandas.
Comercializar a ajuda. Dar risos ao invés de dinheiro.
Isso mesmo, eu entrego o sistema. Ele esfria, ele seca.
Não quero fazer críticas.Não quero ser revolucionário.
Nada assim. Esqueçam. Quero beber alegria. Espalhafatosamente.
Minha carteira está cheia de gargalhadas, eu tenho abraços de crédito.
Da minha conta, o dinheiro foi corrente, agora ela é sorridente.
Só desejo mergulhar, respirar a essência doce de cada ser,
provando o mel de cada peito, de cada aperto de mão.
Ouvindo a brisa nas folhas da minha natureza humana
enquanto deslizo pelas ruas iluminadas das minhas veias.
E, assim, quando a luz me for embora, eu seja imortal
em cada amigo. E que, ao perguntarem por mim, eles digam:
"Riu, bebeu, amou e a natureza de sua alma o sistema não urbanizou!"

terça-feira, setembro 12, 2006

Lucidez

Antes de fechar os olhos, quero sonhar.
Não um sonho fraco, apagado ou distante.
Um sonho lúcido! No qual eu possa fazer presente
o que segura meu peito agora. É tudo incerto, sei!
Mas é no sim, no não e no talvez que há beleza na vida.
Sentar e apreciar. Olhar. Esperar. Simples obra do acaso.
Espelhar o que é invisível para todos. O que eu consigo enxergar.
Não uma imagem perfeita. Uma que eu possa segurar e levar
ao meu sonho. E ir, ao seu sonho. E delirarmos, inebriados, entorpecidos
por refletirmos a essência primitiva do sentido de existir.
No nascente e no poente,
acordar...
ela ainda lá,
Eu nela e ela em mim.

domingo, setembro 10, 2006

Hoje não falarei de amor, de traição, de saudosismo. Não!
Não quero saber de suspiros lascivos, de culpa, de pureza.
Apenas observo os homens passeando pelas ruas.
Os HOMENS, os homens e os HomenS.
A humanidade, o humanismo, o humanitário e o humano.
Coisa feia ficar definindo tudo! Palavras não se definem!
Palavras se sentem. Levem para longe o Aurélio.
Eu quero saber daqui, da onomatopéia, do que sentimos.
Isso, ele mesmo, que escutamos.
Eu quero pegar na mão. Quero abraçar. Quero amar.
Não somente uma mulher, mas todos meus companheiros:
o humano, a humanidade, o humanismo e o humanitário.
E tudo dentro de si é tão confuso que o olhar faz-se torto!
E assim, sou impedido de sentir. Só escutar.
Eu não quero nada disso. Só a confusão.
Quero falar a língua desconhecida, pré-histórica.
Quero rugir. Quero o contato primitivo.
Quero a vida...ela apenas
sem mais definições...

quinta-feira, setembro 07, 2006

Eternos Heróis

Tarde qualquer, observando o sol indo embora pela janela,
que me lembro de tudo, com doce penar.
Olhando os pêlos nos meus braços, através da imagem aquarela.
Passou e restou, pouco! Do que em mim era puro e ingênuo. Recordar.
O que outrora fui e se perdeu. Meu barco de papel afundou no oceano
de lágrimas, junto à minha lancheira. Acabou o tempo do meu recreio.
Os monstros agora não passam de bonecos. Bonecos!Ah, os bonecos daqueles anos.
Todos se foram. Pouco daquilo sobrou. Agora, tenho que ser soldado sem receio.
Minha cabeça de papel queimou, amassou, pelo ralo do tempo escoou.
Obrigação hoje é trabalhar para comprar meu lanchinho, porque já sou fortinho!
E a energia, antes abundante, hoje se faz escassa. Olhos de quem um dia chorou
esperando o pai na escola. Senhoras e senhores, ninguém já bate à minha porta!
"Põe a mão no chão!", já não parte de meus coleguinhas. Só ladrão!
Hoje, sem atenção, eu só escuto o "Vai pro olho da rua..." do patrão!
Ah, queria eu ser ciente de tudo isso naquele tempo! Naquele tempo em que a ânsia
aparecia no Natal, que as feridas eram de quedas na rua e que tudo parecia grande!
Caminho em direção ao espelho, procurando por um rosto sem barba, sem olheira, sem relógio...
Quem sabe, ele ainda esteja ali, no fundo da minha retina...rindo, pulando, suando!
E vai continuar lá, se eu quiser. Porque na adoleta da vida, o que enxergo no espelho é só
o reflexo de um menino fantasiado de adulto, brincando...

terça-feira, agosto 29, 2006

Emoções Imperfeitas

É,
a certeza foi embora essa manhã.
Sim,
vai ser difícil, mas e daí?
O presente não quer saber disso não.
Os passos persistem, quase caí.
Demorou para encontrar de novo o chão.

Não,
não sei se é passageiro. Calo!
Derramo lágrimas e derrapo
no que em mim faz de mim um trapo.
Quando encontro fraqueza no que falo.
Quando estou em um universo sem Força.

Sim,
quero a incerteza. Quero o tocar.
Sem a firmeza, sem para o futuro olhar.
Já que ele pode não estar mais lá,
quero dançar essa música do sentir.
Antes que ela diga: "Tenho que partir."

Não,
nem tudo é um jardim. Sei.
Persisto, abro mais a janela.
Vem Sol, vem chuva! Enxergo e recordo,
tudo que um dia foi certeza, guardei.
Nasceu e precipitou coisa maior. Ela
me deu óculos. Eu concordo.

Sim,
posso vê-la mais suja. Vai.
posso vê-la mais limpa. Fica.
Olha lá, o míope agora pode ver.
Do que nele é antagônico nela, além da janela.
É sim ou não, e então?
Depois da acomodação, só resta a constatação.
O óculos para o amanhã não funciona.
Só lhe resta crer.
Não é a certeza que de manhã foi embora.
Foi só a luz de um novo sol que ele viu nascer.

sábado, agosto 26, 2006

Percepção

Veja lá,
ela já anda arrastada...
a sombra torta, fraca e apagada
Ar de quem conhece a dor
de ter que andar com pudor.
Nem sempre foi assim,
o riso amargo já foi doce sim.
Hoje é desilusão.
Hoje é curtição.
Não quer mais saber do engodo de todo início.
Porque no fim só resta o que restou do anterior,
que restou restando outros.

Veja lá,
ela já chora rindo...
um som rude, morto, calado.
A graça da garça voando pousou.
O Beija do flor, voou e levou,
platão, dança, cartas.
Seu pombo correio arranjou outro emprego,
espantado pelo cão de seu coração.
Hoje é sem platão.
hoje é palavrão.
Não quer mais saber do profundo...
Porque tudo permanece na superfície,
lançando mão de todas asas, brancas!

Olhe lá,
Ela já (se) pergunta "E daí?"
Já vira a cara para o anel.
Nem quer mais saber do vestido branco.
As vestes de luto pelo seu crédito.
Até arranjou novo animal para estimar.
Tudo isso pertence a ela, que guarda na jaula
junto ao Corvo, de nome Platão.
Hoje é sem Paixão.
Hoje é sem definição.
Então, não olhe não! Veja! São somente pétalas aleatórias,
mascarando o livre-arbítrio da dona do jardim.
Ontem foi a Rosa.
Amanhã serão os espinhos.

terça-feira, agosto 22, 2006

Águas de um Asfalto Seco

A vela apagara...
A avenida não foi asfaltada em todo seu trajeto.
A esperada surpresa da bifurcação acabou chegando,
no momento em que ele ainda não tinha conseguido seu próprio veículo.
Ela, já estava em certo automóvel quando ele ainda trilhava somente de pé.
O aceno fraco, desconsiderado, indiferente, que sumiu
no horizonte do infinito, junto com o veículo.
Demorou para ele que, talvez por efeito do sol lancinante, teimava em dizer que estava lá.
Contudo, aquela imagem começou a falhar, a piscar...
Ainda de pé, começou a duvidar da veracidade daquilo.
Dúvida essa que para ele, não era capaz de existir.
Atormentado por isso, continuava de pé, seguindo somente a faixa central de sua estrada,
contínua, que não permitia ultrapassagem.
Choveu! Sol fraco! Mirando o horizonte da outra estrada que se afastava cada vez mais.
Constatação, o aceno sumira. Para percorrer seu novo trajeto, ele precisava de algo real...
E foi olhando para o acostamento de sua própria estrada, que achou certo veículo.
A imagem, por vezes, piscava na sua frente, mas ele não queria mais o infinito da estrada dela.
Placa: "Permitido Ultrapassar". Faixas descontínuas.
O Sol do seu horizonte, do seu interior, da sua mente, nascia.
Enquanto o da outra pista já estava em Crepúsculo.
Em alta velocidade, passou a escutar a canção formada pela natureza.
Dirigindo com a insanidade sadia de sair sabendo que depois do salgado pode vir o doce!
Que depois da agonia vem o alívio,
depois do choro, pode vir o riso,
do sono, vem a vigília,
do sujo, vem o limpo.
E que a quebra de um espelho, não quebra o reflexo.
Tudo isso podia ser decidido por ele, pois era ele quem estava no volante...
quem determinava a velocidade, a direção, se o o pára-brisa ficava embaçado ou limpo.
E contemplou, com doce saudosismo, o passado se afastando pelo retrovisor.
Sabia que elas ficariam ali, as memórias boas.
Entorpecido, inebriado pelo vigor da esperança, da incerteza do horizonte, do caminho, do trajeto, da vida, ele mirou o infinito, sagaz para dar carona a um novo alguém que quisesse percorrer a nova estrada, que lhe indicasse o caminho vez por outra e que tivesse paciência de passar pelos buracos só para chegar no encontro das linhas paralelas, que apresentava-se distante, porém lindo no horizonte.
De repente, um novo aceno, diferente, impávido, desafiador...Será?
Encostou, abriu o casulo e...
Acendeu outra vela...

sexta-feira, agosto 04, 2006

20 e poucos anos

Rubem Fonseca me faz bem. Os jovens tendem a imaginar que os velhos não foram jovens um dia. A época muda, mas os conflitos são similares. O jovem corre, tem pressa, quer expandir, crescer e, por vezes, acaba diminuindo. Eu sei, o mundo tá aí, com toda sua grandiosidade, toda beleza, chamando: "Vem me conhecer!". E quando rodamos o mundo todo e nos damos conta que é tudo a mesma coisa? São planícies e relevos organizados de modo diferente. As pessoas? Costumes, culturas...mas são seres humanos de qualquer forma. Acho que nós, ao nos tornarmos mais adultos, com o inerente crescimento físico, o coração cresce. Forma-se um espaço, que o moço sente necessidade de preencher. Como? Interagindo com outros que sentem o mesmo vazio. Essa é a saída mais rápida, porém, há outros meios de preenchimento desse vazio inexistente. Atualmente, o caminho mais fácil é o mais procurado, álcool, entorpecidos, é isso mesmo, música! Beijos. O beijo, em sua essência, é algo mais puro, mais sublime. O que o ser humano faz? Como a física moderna e a bomba atômica, como a inteligência de Hitler e o nazismo, como tudo que poderia ser usado somente para o bem, mas tomou outro caminho. Banaliza aquilo que seria a mais perfeita tradução da paixão, da atração mútua, do contato. Criando um imã para o vazio do peito ardente. Nessa troca de beijos notívagos, os iniciantes da vida adulta se perdem no pequeno prazer que um beijo espontâneo ainda oferece mas que, entretanto, se mantém longe da volúpia e êxtase transcedental que um beijo apaixonado pode oferecer. A paixão, como diria meu amigo Rubem, faz com que a mistura das salivas tenha um paladar inefável, semelhante ao néctar mitológico. Isso mesmo. E é disso que as pessoas estão se esquecendo, aos poucos, só tende a crescer. A língua só ficará a procura do fel...já esquecido.

terça-feira, julho 11, 2006

Da vida não sei mais nada,
nem mesmo da minha sei.
A estrada acaba em um penhasco
das futilidades de cada ser.
Não é bem uma crítica, nem revolta,
nem mesmo análise...
Quando se tem o crédito arrancado,
naquilo que tantos falam,
daquilo que tantos procuram,
daquilo que tantos definem
e que todos temem!
Simplesmente o lado bom escorre
pelo buraco da "maturidade", pela via mais fácil, pelo tempo menos chuvoso...
Nada explica a variação, somente a boca insana sabe a dor.
Áspera, ofegante, tentando obter o último suspiro de verdade.
Algo real no mundo irreal.

quinta-feira, junho 22, 2006

Phenomena

É , o "Fenômeno" abalou hoje com os dois gols. Coitado, a cobrança é imensa! Mas no nosso país é assim mesmo, o nosso fenômeno é um homem normal , dentucinho e careca. Ele que é cobrado, que possui todas as atenções e que traz alegria ao povo. Talvez, se ele engordasse um pouco mais , passasse a usar terno e deixasse a barba e o cabelo crescer, perderia toda essa atenção. Milionário, ninguém duvida. Essa imagem lembra outra pessoa, mais carismático talvez. Não sei se entende de economia. "Panis et circensis" , será que ela sabe escrever isso? Os brasileiros tiveram grandes esperanças com ele que, diferente do fenômeno, não fez tantos gols, mas driblou alguns obstáculos. Para ele , o segundo tempo tá acabando, não sabemos se vai ser classificado. Eu sei de uma coisa: no momento, ninguém tá preocupado com isso. Eu lá quero saber da grana... O quê? Quantos pontos tem Gana? Pensando bem, eu queria estar sentado no grande circo Dortmund, comendo meu pão hot dog e vendo o fenômeno brasileiro fazer o quarto gol, girando o dedo indicador para comemorar a posição do Brasil no mundo...

quarta-feira, maio 03, 2006

Vácuo

Hoje foi um dia como qualquer outro. Na verdade, quase todos os dias são como qualquer outro. Ou não. O ser humano gosta de ficar preso ao cotidiano que conduz à rotina. Incrível! Podemos acreditar na possiblidade de modificar cada segundo de nossa vida dentro do cotidiano. Sim, é possível. Somos levados a crer que o necessário é o trabalho, ganhar dinheiro, constituir família, hetero, casa, filhos: "Olha, puxou ao pai!".Sistema. África. Brasil. Sul do Pará. Banquete. Críticas aparecendo, governo, política, etc. Necessidade de sentir-se localizado, com um propósito. Ah! Enquanto isso, nasce um "pé de galinha", a voz fica mais grave e trêmula. E daí? A medicina avançou! Quem são os médicos? Advogados? Engenheiros? Melhor, quem serão? Peraí, já sei: "Rapaz, onde é hoje? Fiquei sabendo de uma festa aí que vai bombar!!Porra , lá vai ser muito divertido! ". "Que lindo! Ele é um menino de ouro! Tão responsável! Estuda direitinho e sai aos finais de semana!" . Opa! Dor nas costas. Arranca esse cabelo daqui! Em casa asssistindo aos programas da TV. "Meu neto , converse aqui com o vovô! E aí , como estão as notas no colégio!? Já tem namoradinha!!?" O que foi ? Eu vou à floresta...

quinta-feira, abril 27, 2006

Pára! Escuta.

É...acho que realmente chegamos ao fim de novo.
A paz me encontrou, com saudades, me abraçou.
"Estive a tua procura, mas o humano não quer cura!"
Verdade? Nem parece! Achas que sinto tudo isso?
Vazio e tu batendo, certeza eu tenho disso!

Eu não bato por querer! Mesmo assim, desculpa!
Parabéns! Não é fácil encontrar quem abraçaste.
Sei que o vazio te parte, pois a mim também. Choraste?
Sou ciente que perdi o ritmo! Mas ele tem culpa.
Não consigo evasão. A sincronia era perfeita.

Assim como acompanhaste, sai! A união foi desfeita.
Sim, chorei! Mas não porque hei chorado, encontro-me
arrependida. As lágrimas secaram meu peito ardente!
Saiba: feliz e livre estou! Acelera e tente
encontrar outro, com quem possas tocar livremente.

Ciente estou do pranto que te leva ao mar da calma!
Perdoa-me, o amor enganou-me. E a mim não se mente!
O erro me domina e, nesse domínio, me ensina.
O dano pode provir de um sutil olhar masculino.
É, eles são ousados, contudo não teme! Serei malino!

Não entendes? Abdico da paz, por um futuro que sacie
o afã de minh'alma infantil, da qual a mão procura por outra,
madura e fiel. Nego o malefício , portanto, se esvazie.
Quero cantar no ritmo do teu igual nele e caminhar
na vasta estrada da ilusão de que tudo pode bem acabar.

Senhora minha, disposto estou a satisfazer-te.
Teu sofrer é minha parada e isso não desejo.
Esperto estava a ouvir para um novo som encontrar-te.
E durante essa prosa, doce música escutei. Convicto sou,
essa sinfonia é a trilha da união da paz e do amor.
Aproveita o ensejo...

terça-feira, abril 25, 2006

Sonâmbulo Anseio

Não é no suplício que se consegue.
Trilhando caminhos falsos,
seguindo adiante em um triunfo falido
que se renova em cada peito gritante.
Diariamente, sonhando arrependido.
Acordado a cada instante
no pesar de um grito contido.
O que leva e acaba,
que transcede,
mas fica , somente anseia.
E traz o que começa,
realiza e prega peça.
Espera, teimosia, não vai!
Deixa a esperança escoar.
Enche o futuro que desliza por minhas mãos
trêmulas e molhadas . Sai!
Sei que me impedes de dançar
sobre a colorida pista do coração.
E mesmo assim abraço-te
cantando meus versos vãos.

domingo, abril 16, 2006

Traços Tortuosos de Notas Caladas

(Texto escrito em homenagem ao meu irmão Martin)

O olhar baixo que implicita uma calma.
Calma inexistente da alma
ansiosa.
A ânsia se perde na peculiaridade
da personalidade.
Mas se mantém viva:
"Um dia..."
A pressa lenta de poder
viver e correr , na liberdade
da rede que integra sua mente
esperta e preguiçosa.
Uma concomitância confusa.
"Um dia..."
Aspiração! Banda! Rede!
Desenha seu caminho nesse tripé.
Sonhando um dia tocar com o André.
O esforço brando em prol da convenção
que ele rejeita , sabendo que pode alcançar...
Oportunidade lhe falta em cada parte
do encontro pleno de sua arte
junto a seu doce instrumento ,
na estrada tortuosa do conhecimento,
no rabisco profundo de seus anseios.
Contudo, ele não pára.
Aceita o vendaval que leva a corda,
que quebra o braço,
que , além de tudo , desafina as notas
do seu futuro incerto.
E é nesse musical desenho animado
que o Ogro encontra forças para ser ousado
e dizer com ar de garoto esperto:
"Um dia..."

sábado, abril 08, 2006

Noite que acolhe

Não sinto vergonha em dizer que tens razão,
quando me jogas essas palavras na alma,
me empurrando contra a noite que aguarda
fria e escura. Ouso dizer que não te abandonei,
que foi a fuga de uma realidade tomada pelo tédio.

Eu , mais do que qualquer uma, estive aqui
e não procurei evasão nenhuma. Agora, o que fazes?
Converte lágrimas dantes doces, em salgadas.
Minha vã confiança. Isenta da temerosidade
do profano, agora, escorre pelo rosto de uma alma abandonada.

E todos os agrados que mirifiquei? Procurando
de ingênuo modo, pôr emoção na tua vida.
Já me entregas todas minhas vestes para que
eu possa sair sozinho, pela porta que um dia entramos juntos?
O futuro nosso escorre sobre a face arrependida.

Nada do que fizeste para crescer minha felicidade
justifica o descaso teu com o sacramento.
Posso dizer que meu esmero limpa minha consciência.
E , ordeno, vai-te em boa hora, que eu refuto teu lampejo.
Deixa-me aqui, esperando outro senhor, que há de vir.

Ciente de todo pesar, eu vou pra não mais voltar.
Mas de tudo que resta, é bom que fiques sabendo:
teu pranto lava os trapos da cupidez malina de minh'alma
trêmula e vil. Não sou mais merecedor de todos teus arcanos.
Abraçarei a solidão da noite e levarei comigo todos os danos.

Pingos do desconhecido

A chuva passa.
Aqui dentro também.
O sono, a fome, a alegria, a tristeza, o desejo
Tudo, na verdade, passa
A procura incessante de uma evasão
Será isso, vida?
A pergunta é sem resposta
como muitas dúvidas do cotidiano
que se espalham , escoam pelo ralo do pensamento.
Basta parar e olhar! Sem mais nem menos,
no afã de encontrar, o que lhe transformará
em outro, ou o que , por ventura, mudará
o final da longa caminhada.
E , quem sabe, por um pequeno momento,
enxergar
o que vai valer por todos os dias de prisão,
que vai acabar com esse desconhecido sofrimento
E proporcionar a sensação de chegada.

Banalidade artística

Engraçado como podemos fazer análises circunstanciais da vida. O universo cinematográfico é fantástico por essa capacidade de conduzir o espectador a reflexões a respeito dos fatos mais banais. Aí me vem a pergunta : a vida imita a arte ou a arte imita a vida? Primeiramente, podemos afirmar que a arte, por ser baseado em atos, emoções e fatos da vida, pode imitá-la, contudo, seria um pensamento muito restrito. Um observador extremo do cotidiano, o que é bastante raro atualmente, enxerga as coisas de uma maneira muito mais romântica, no sentido amplo. O extremo da observação caminha para um êxtase supremo a partir do qual você consegue imaginar todos os gêneros cinematográficos. Pode ser uma comédia, um drama, um suspense ou , até mesmo, um terror. O desenvolver das cenas, por vezes, é tão perfeito, numa sincronia tão singular, que supera qualquer dramatização. A partir disso, pode-se expandir as mesmas idéias para outras áreas, que não a cênica, como desenho e música. Esse é o dom dos artistas, é enxergar arte na vida. E assim, mergulhar em um mundo de confusão de tudo e de si mesmo, sugando a mais doce essência da realidade. Pode parecer meio piegas, eu sei, entretanto, bem observado, todo ser humano é um artista nato, por isso existem os cinco sentidos. Tanto que quando um de nós vem desprovido de um daqueles, dá muito mais valor aos que lhe restaram, sendo muito mais capaz de sentir arte onde muitos sentiriam repulsa.

quarta-feira, abril 05, 2006

A Claridade de um lado Sombrio

O caminho era incerto pra ele.
A teimosia é inerente , ela sabia que ia
Segurar o coração e brincar com a paz
mas , também , o conhecia bastante
sabia que ele gostava daquilo
de não sentir-se no chão , de avistar a aurora
durante a noite , durante o sono.
Dura era a realidade, doce era o platonismo,
do sorriso , do tamanho , do carisma.
A esperança que morreu primeiro , antes da concepção,
do entrelaçar das idéias, das palavras em sincronia.
Lidar com uma melancolia feliz, que lhe confundia
os confins dos pensamentos. Afã de melhorar o que lhe revoltava,
de fazer presente uma felicidade existente na surrealidade daquela mente
forte , porém , rainha na caminhada .
Ela sabia de tudo isso e o empurrava na estrada .
Ela era assim mesmo , cruel , mas era mãe também.
Mãe que dá um brinquedo pro filho.
Mãe que amamenta com carinho
Mãe que faz o caminho mais limpo
e mostra como tirar todas as sujeiras.
Que , nem por isso , deixa de repreender,
de ser rígida.
Há muito que ele não sentia aquela insustentável leveza.
Responsabilizando-a , entretanto , sem recriminá-la.
Bastava ser ciente da existência . E poder dormir.
Nascente no sono . Poente na vigília.
Reflete o sonho na superfície opaca da realidade.
Quando ele se põe e mostra só a metade do que é.
Só a metade de toda luz que pode ter.
Pode ter quando ela nasce e mostra que pode crescer,
expandir, alcançar um olhar , um simples gesto de existência daquilo que
É impossível. Contudo, ele cala.
Ele agradece a ela e a recrimina.
Ela: vida. Que solarizou aquele escuro mundo cardíaco.
Fazendo viver e morrer . Ascendendo e apagando , sem querer,
sem poder , sem saber ...como poderia ainda viver!!!?

segunda-feira, abril 03, 2006

Passos passionais

Esforço em vão. Não sai do pensamento
Corre, sem pressa, aproveita cada momento
Perder, ganhar, é isso mesmo! Levanta , cai
Mas não para de correr, segue adiante, vai!

Dói , eu sei , respira . Vida é sentimento
Demora , demora. Não vais sair isento
dessa labuta inerente, ninguém sai.
Só quando chegares ao final. Então, vai!

Mas não esquece , corre! Chora, grita,
te sustenta na dor. Esquece a saudade
que te traz dúvidas cruéis da realidade.

E no caminho, eu sei . Calado , ainda exitas!
Entretanto, conheces isso que dentro agita.
Isso!Antigo! Inexorável!Que te confunde a sanidade.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Sedentos vivos

O sono toma conta. Realmente, é bom ser dominado pelo terceiro dos três maiores prazeres da vida. Mas, estou com vontade de fazer outra coisa. O barulho dos carros que passam me incomoda. A Internet revolucionou o mundo. Pego a chave do carro. Dizem que o ser humano é fascinado pelo automóvel porque o mesmo confere poder e status. Não concordo. Simplesmente considero meio de transporte, facilita a vida. Será?? Não costumo observar as coisas presentes no caminho cotidiano do trabalho. Sempre passo por vários lugares e não percebo. Hoje não está muito lotado. Cerveja é sempre uma boa opção. Quando chego a um lugar, me recuso a ficar dando voltas, paro e espero. Nunca falha. O ato de dançar pode significar muitas coisas. No caso de uma mulher erguer os braços e realizar movimentos circunferenciais com o quadril é bem sugestivo. Principalmente, uma jovem morena como aquela: expressiva, enigmática, turva. Os olhos azuis que penetravam no meu corpo. Linguagem corporal. Mãos nos bolsos, região pélvica em exibição , aproximação, sorriso. Algumas palavras trocadas. Fome toma conta. Segundo prazer, não gosto de restaurantes refinados. Porém, mulheres sim. Ela sugere "La vita". Por ironia, era no caminho do meu trabalho. Carne vermelha. Bom vinho. Satisfação. Beijar dentro do carro não é uma de minhas preferências. Sempre me surpreendo. A pele macia e consistente. Beijava como se ainda estivesse faminta. Desejo toma conta. Ali mesmo, sem raciocínio, deixamos o instinto nos possuir. Carne vermelha. O êxtase emergia com a minha respiração alucinada. Com certeza esse é o primeiro prazer. Dominador, escravista e estonteante. Acaba com um sentimento transcedental inexorável. Ambos saciados. Terceiro prazer. Ciclo? Ciclo da vida.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Dona de Casa

Andréa era daquelas mulheres batalhadoras, determinadas, mãe solteira de 2 filhos, tudo que ela conseguira na vida tinha sido com seu prórpio esforço. O que lhe conferia essa "garra" toda era o simples fato de não ter ilusões nenhuma na sua vivência , se dizia "realista". Cedo começara a trabalhar como caixa em uma pequena papelaria, mais tarde, com muito esforço, tornou-se gerente. Cética em relação a religião sempre dizia: "Meus filhos, Deus num dá nada , quem dá é o suor do côro da gente!" . Entretando, por trás de toda aquela dureza, à noite, Andréa se entregava às lágrimas, não sabia o por quê daquilo, uma emoção apática , inexorável , vazia, tomava conta do seu ser. Certa noite sonhou, estava ela a andar por um campo dotado de uma vegetação rasteira, avistou mais a frente um portão azul celeste, começou a correr em direção a ele, mais perto, pôde observar que estava escrito a palavra "Vida" no portão, entrou . Sentiu-se numa espécia de cinema onde ela era a espectadora. Observou apenas uma criança, no começo de seu destino, engatinhava, após algum tempo, começou a andar, caía , bastante, porém não desistia, mais tarde estava correndo...Acordou com o despertador. Passou o dia todo pensando no sonho. Lembrou-se de quando começou a trabalhar na loja, não sabia quase nada de administração, atualmente, ela que comandava todo o processo ali. Lembrou dos seus filhos, das dificuldades enfrentadas e superadas com eles. Do sorriso de cada um quando ela chegava com um presente, por mais barato que fosse, em casa. E se sentiu novamente no sonho, sendo espectadora de toda sua vida, sendo que daquela vez era real. De repente a imagem de seu ex-marido lhe veio a mente, recordou os bons e maus momentos que passou ao lado dele, lembrou tambem de seu amigo de infância, José, que uma vez por mês aparecia na sua casa para falar de como andava sua vida e tomar cerveja, como era bom rir com ele. Já na sua cama, à noite, a emoção lhe preencheu novamente o coração, porém, não era mais um sentimento vazio, com um sorriso no rosto, as lágrimas caminharam num ritmo dançante pelo rosto daquela brasileira de 26 anos, por ironia, seguindo as notas de uma música que tocava no bar da esquina: " Viver e não ter a vergonha de ser feliz , cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz . Eu sei que a vida deveria ser bem melhor e será , mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita...".

terça-feira, janeiro 31, 2006

Sobre o Materialismo

Cala a boca!
Coisas materiais
Fico distante
O barco parte
Estou no cais
Nada brilhante
além do Sol
Verdadeira arte
Natural
Peito gritante
Responde mal
Coisas materiais?
Cala a boca!

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Palavras , apenas palavras...

"1 . Superfície plana limitada por uma circunferência . 2 Circunferência . 3 Aro, anel . 4 Círculo Social. " Fecho o dicionário . O ato de bocejar confere a boca uma forma circular . Deito . " Senhor , abençoe minha família , perdoe meus pecados , me livre de todo mal . Obrigado por tudo . Amém ." Antes de dormir recordo sua imagem . Como pode as modelos desfilarem vestidas com aquelas roupas ridículas, irrisórias, se a verdadeira beleza de uma mulher se faz presente na forma como ela realiza suas atividades cotidianas?! . A imagem era ela comendo um sanduíche na padaria perto do escritório , limpando a boca com aqueles guardanapos finos . Há três meses estava mais magra . O ganho de peso é um processo meio que imperceptível no começo , depois de três meses nota-se alguma diferença . Realmente, suas formas estavam mais acentuadas, o que a deixava mais linda ! "trim , trim!!" . Acordo . Meu despertador é daqueles meio antigos , redondos , quase sempre me tira da vida e me traz de volta para a sobrevida . O sol tá nascendo , aparece só metade de sua superfície , linda forma e brilho! Meus olhos doem , pupilas contraem uniformemente . Adquiri o costume de ler com meu pai , ele sempre dizia : " Leia meu filho e serás um homem inteligente!" Como ele tinha razão ! As pessoas que me conhecem me acham esperto , hábil , intelectual . Talvez pelo meu discurso repleto de palavras novas que aprendi na noite anterior lendo o dicionário . Chego no trabalho , abro a porta , abro tudo, sento e espero . " Veja um jornal por favor!" . " Leão se classifica para a final do 1º turno !" . Os jornais saem todos bem cedinho , geralmente é na hora de ir pro trabalho , de 9 horas até 11 o movimento é fraco . Geralmente uso esse tempo pra ler ou fazer palavras cruzadas . " Bom dia ! Você pode me ver a Caras desse mês !" Meus olhos foram preenchidos por uma beleza muito maior que a da aurora . Tum , tum , tum , acelerado . Não era simplesmente uma pessoa folheando uma revista . Era mãos torneadas que mimetizavam membros das ninfas gregas . Eram olhos que passavam de circulares para fantásticas uvas verdes . A capa da "Caras" mostrava a foto do Ronaldo Fenômeno , mais conhecido como Ronaldinho . Falava do grande salário de pessoas famosas . "Tem troco pra dez?" . "Quer saber , pode ficar com o troco." . Eu não ligava . Suas palavras eram de uma harmonia sinfônica! Ronaldinho , mais de um milhão! Sua careca circular . Será que ele sabe o que é um círculo ou , pelo menos, bola?Sei que já namorou a Suzana Wernner. Provavelmente namoraria a minha Afrodite . À noite, queria dormir , porém , era impedido por ela e pelas palavras que ficavam girando na minha mente : " Inteligência. Platonismo. Caras. Bola. Um milhão . Realismo . " .


domingo, janeiro 29, 2006

Re x Pa

"... a bola corre ali pelo meio de campo , é Landu que tá com ela , ele sai desfilando , dribla a zaga do Paysandu , toca pra barata , ele chuta e é golllll do remo!! A torcida vai a loucura!! " Remo , vitorioso. Torcida , feliz????? Pelo menos deveria . No que diz respeito a torcida em geral , realmente , está feliz . Torcida organizada?????Não. Saída do jogo , cerveja , buzina de carros , "Remo , remo!!!" , torcedores bicolores de cabeça baixa. Pais , filhos , esposas , enfim , pessoas que esperavam um verdadeiro clássico . De repente : " Tira a camisa , a remoçada vem aí!" , " Olha a galera do remo descendo.". " Passa a camisa , filho da puta! Quer levar uma facada" . O olhar que desviava e não conseguia encarar , talvez pela vida cheia de violência. Índole??Quem sabe!!?? " Po , cara , deixa a camisa!!" O ato de flexionar o bíceps e fechar o punho é usado pra várias coisas , naquela situação não houve dúvidas . Soltou a camisa . Incrível como os animais atuam quando estão em grupo . Talvez aquele homem de gorro azul marinho e bermuda desbotada fosse um covarde nas situações mais banais e corriqueiras . Mas o ódio contagiante de seus colegas de cruz , que também cercaram o carro , junto ao rosto jovem do motorista , lhe deram uma confiança arrasadora . Com a camisa do adversário na mão , ele se sentiu um rei . "Não acredito! Ainda era oficial a camisa do otário." . "Vende !". O infeliz dirige pra casa triste , time perde , camisa também . O rei passando na roleta do ônibus com um sorriso bandido. O derrotado , cabisbaixo , janta em casa pensando na prova da faculdade na terça e em como sua semana vai ser conturbada . O imperador não janta , imagina pra quem vai vender a camisa . O roubado já vai dormir , consciente de que foi vítima indireta de um grande ladrão . A vítima direta , feliz ,consciente de que está pixando um muro : " Remoçada , a que comanda o norte!" .

sábado, janeiro 28, 2006

Tédio

Acordo , gosto amargo na boca , sábado , sol no rosto....O barulho do martelo que faz questão de martelar o meu sono . Sensação estranha na região pélvica , dói , levanto e vou ao banheiro . Sou preenchido de um prazer enorme no ato de eliminação da urina . Comida com gosto de isopor , estranho , é tão bom comer! Não quero muito me lembrar da noite passada , é quase sempre assim mesmo . Prefiro mastigar o bife que se desintegra aos poucos na minha boca seca . Acabo de almoçar e sinto um vazio , deito no sofá , meio pesado , filme! Nada interessante . Somente esse sinistro tédio . toc , toc , toc ! Carteiro! Caixa grande ! Será que é o que eu to pensando ? É isso mesmo , é lindo! Um prazer melhor que o de urinar toma conta de mim ! A lágrima escorre sem que eu perceba . Como brilha! Tenho que por em ação ! Desço e pego o primeiro felino à vista . Parace faminto . Gato toma leite. Pronto . Coloco o animal em posição confortável perto do meu novo objeto , passando a mão pelo seu ventre , sinto uma leve taquicardia , como se ele soubesse . Ainda observo ele lambendo as patas . Solto a lâmina , ela desce e faz um ruído semelhante ao martelo de quando eu acordei . O sangue jorrado suja um pouco minha roupa . Com o fogo aceso , está na hora do jantar . Tira os pêlos meu filho! Diz minha mãe . É só colocar na água fervendo . O tédio foi embora . Carne felina é gostosa.