terça-feira, setembro 29, 2009

Ainda

Hoje nao sou mais quem outrora fui.
Nao guardo mais a liberdade que seduz.
Trago agora uma prisão interna, uma saudade que hiberna,
um casulo que me traduz.

Em meus enganos, há vituperios aos alheios,
defamações aos escondidos.
O amor não trago, não ardo, não vivo.
Sigo recôndito ainda no que sinto.

A falta que caminha em meu abrigo,
levou a chave, deixando-me aflito.
E sei que a indiferença caminha com o sumiço.

Aos meus olhos nunca mais foste apresentada,
mas o fazes, todo dia, sim, ao meu pensamento.
E o meu despertar ainda nao pressinto.
O meu grito, o silêncio ainda sufoca.

E das perguntas que tenho, são ausentes as respostas.
Sao ausentes as propostas, que em minha lida ainda recebo.
É com a nossa imagem que me alimento.
É contra meu desejo que em meu ser ainda te vejo.
Na vontade de abrir as asas da minha vaidade,
me vejo mudo, perdido na saudade.

Há, na verdade, tempos que não nos temos, que não te vejo.
E por aí caminhas, por aí tu vives com teus receios.
É provavel que nem saibas mais que existo
ou que andas em outros turbilhões.
Mas de que adianta, tu seres longe, tu seres remota.

Se a tua mão ainda afaga meu peito agora,
se ainda te vejo ao meu lado na hora de dormir...

sexta-feira, setembro 18, 2009

Queria ter mais que uma mera visão,
ser cego de ver tudo, além do que em minha frente se estabelece.
Sucumbir à toda idéia, enxergar toda minha imaginação.
Mas me pego fraco, simples e comum. Sem metafísica, nada em mim transcede.
Procuro respirar ainda o ar que de confabulações me cerca, essência de loucuras,
ecos do que queria viver e na realidade fenece.

Vou a cada canto respirando, tateando, a procurar o que em meu próprio ser já achei e
continuo a ignorar. Uma indiferença facultativa, que ainda me movimenta nas regras
sociais que quero me enquadrar.
Sabendo que sou sem quadro, sem espaço. O meu tempo é pequeno demais para me preocupar.
O meu dia é muito fugaz, quero abraçar
o vento, melodia...sorrir da chuva, gargalhar da lida cotidiana que me faz só mais um.

Eu sou tudo, eu sou mais um. Sinto profundo, sinto nenhum.
O beijo doce a estampar, o amargo fel da vida a rejeitar.
Não quero a vida comum. Quero a minha, a que eu guardo bem aqui.
A de apenas minhas sensações escutar, sem querer saber do futuro.
Eu quero o meu presente. Este presente.

Agora, vou acordar, levantar e sorrir...
Não porque escapei. A realidade se faz agora em mim,
Sigo por dentro e vou correndo, deslizando em devaneios,
me refazendo a cada minuto em desatinos,
sorvendo de cada sentimento minha metafísica.

domingo, setembro 06, 2009

Nossos Versos

Não sei se o controle de minhas mãos me foge ou se já o tenho perdido em tua presença.
É incerto que eu espere pela tua conivência, já que logo me entrego à libido e te tenho em fluência.

Eu te miro em cadência. Leio em ti um poema.
Devoro as palavras dos teus movimentos, recito tua carne que sussurra em meus lábios
gemidos lascivos, doces pecados.

Eu te conjugo.
Tu me possuis.
Ele te invade.
Ela o envolve.
Nós nos temos.

Nessa posse desordenada que te imagino, ora és prosa, ora és verso.
Soneto. Rimas desconexas. Eu te traduzo...
Das metáforas que me apresentas, assino meu paladar em cada reticência.
E teu corpo me escreve, desenha incongruências.
Do nosso discurso direto, rabiscos e letras de volúpia.

Frases confusas, quase dadaístas. Sou estrofe, és quarteto.
Sou poema, és libreto. Em sinfonia, eu te arpejo e perco.
E ao final da leitura, a rubrica, que é terna, quase trêmula.
O texto declamado.
O nosso amor, em gestos, versificado.