terça-feira, agosto 29, 2006

Emoções Imperfeitas

É,
a certeza foi embora essa manhã.
Sim,
vai ser difícil, mas e daí?
O presente não quer saber disso não.
Os passos persistem, quase caí.
Demorou para encontrar de novo o chão.

Não,
não sei se é passageiro. Calo!
Derramo lágrimas e derrapo
no que em mim faz de mim um trapo.
Quando encontro fraqueza no que falo.
Quando estou em um universo sem Força.

Sim,
quero a incerteza. Quero o tocar.
Sem a firmeza, sem para o futuro olhar.
Já que ele pode não estar mais lá,
quero dançar essa música do sentir.
Antes que ela diga: "Tenho que partir."

Não,
nem tudo é um jardim. Sei.
Persisto, abro mais a janela.
Vem Sol, vem chuva! Enxergo e recordo,
tudo que um dia foi certeza, guardei.
Nasceu e precipitou coisa maior. Ela
me deu óculos. Eu concordo.

Sim,
posso vê-la mais suja. Vai.
posso vê-la mais limpa. Fica.
Olha lá, o míope agora pode ver.
Do que nele é antagônico nela, além da janela.
É sim ou não, e então?
Depois da acomodação, só resta a constatação.
O óculos para o amanhã não funciona.
Só lhe resta crer.
Não é a certeza que de manhã foi embora.
Foi só a luz de um novo sol que ele viu nascer.

sábado, agosto 26, 2006

Percepção

Veja lá,
ela já anda arrastada...
a sombra torta, fraca e apagada
Ar de quem conhece a dor
de ter que andar com pudor.
Nem sempre foi assim,
o riso amargo já foi doce sim.
Hoje é desilusão.
Hoje é curtição.
Não quer mais saber do engodo de todo início.
Porque no fim só resta o que restou do anterior,
que restou restando outros.

Veja lá,
ela já chora rindo...
um som rude, morto, calado.
A graça da garça voando pousou.
O Beija do flor, voou e levou,
platão, dança, cartas.
Seu pombo correio arranjou outro emprego,
espantado pelo cão de seu coração.
Hoje é sem platão.
hoje é palavrão.
Não quer mais saber do profundo...
Porque tudo permanece na superfície,
lançando mão de todas asas, brancas!

Olhe lá,
Ela já (se) pergunta "E daí?"
Já vira a cara para o anel.
Nem quer mais saber do vestido branco.
As vestes de luto pelo seu crédito.
Até arranjou novo animal para estimar.
Tudo isso pertence a ela, que guarda na jaula
junto ao Corvo, de nome Platão.
Hoje é sem Paixão.
Hoje é sem definição.
Então, não olhe não! Veja! São somente pétalas aleatórias,
mascarando o livre-arbítrio da dona do jardim.
Ontem foi a Rosa.
Amanhã serão os espinhos.

terça-feira, agosto 22, 2006

Águas de um Asfalto Seco

A vela apagara...
A avenida não foi asfaltada em todo seu trajeto.
A esperada surpresa da bifurcação acabou chegando,
no momento em que ele ainda não tinha conseguido seu próprio veículo.
Ela, já estava em certo automóvel quando ele ainda trilhava somente de pé.
O aceno fraco, desconsiderado, indiferente, que sumiu
no horizonte do infinito, junto com o veículo.
Demorou para ele que, talvez por efeito do sol lancinante, teimava em dizer que estava lá.
Contudo, aquela imagem começou a falhar, a piscar...
Ainda de pé, começou a duvidar da veracidade daquilo.
Dúvida essa que para ele, não era capaz de existir.
Atormentado por isso, continuava de pé, seguindo somente a faixa central de sua estrada,
contínua, que não permitia ultrapassagem.
Choveu! Sol fraco! Mirando o horizonte da outra estrada que se afastava cada vez mais.
Constatação, o aceno sumira. Para percorrer seu novo trajeto, ele precisava de algo real...
E foi olhando para o acostamento de sua própria estrada, que achou certo veículo.
A imagem, por vezes, piscava na sua frente, mas ele não queria mais o infinito da estrada dela.
Placa: "Permitido Ultrapassar". Faixas descontínuas.
O Sol do seu horizonte, do seu interior, da sua mente, nascia.
Enquanto o da outra pista já estava em Crepúsculo.
Em alta velocidade, passou a escutar a canção formada pela natureza.
Dirigindo com a insanidade sadia de sair sabendo que depois do salgado pode vir o doce!
Que depois da agonia vem o alívio,
depois do choro, pode vir o riso,
do sono, vem a vigília,
do sujo, vem o limpo.
E que a quebra de um espelho, não quebra o reflexo.
Tudo isso podia ser decidido por ele, pois era ele quem estava no volante...
quem determinava a velocidade, a direção, se o o pára-brisa ficava embaçado ou limpo.
E contemplou, com doce saudosismo, o passado se afastando pelo retrovisor.
Sabia que elas ficariam ali, as memórias boas.
Entorpecido, inebriado pelo vigor da esperança, da incerteza do horizonte, do caminho, do trajeto, da vida, ele mirou o infinito, sagaz para dar carona a um novo alguém que quisesse percorrer a nova estrada, que lhe indicasse o caminho vez por outra e que tivesse paciência de passar pelos buracos só para chegar no encontro das linhas paralelas, que apresentava-se distante, porém lindo no horizonte.
De repente, um novo aceno, diferente, impávido, desafiador...Será?
Encostou, abriu o casulo e...
Acendeu outra vela...

sexta-feira, agosto 04, 2006

20 e poucos anos

Rubem Fonseca me faz bem. Os jovens tendem a imaginar que os velhos não foram jovens um dia. A época muda, mas os conflitos são similares. O jovem corre, tem pressa, quer expandir, crescer e, por vezes, acaba diminuindo. Eu sei, o mundo tá aí, com toda sua grandiosidade, toda beleza, chamando: "Vem me conhecer!". E quando rodamos o mundo todo e nos damos conta que é tudo a mesma coisa? São planícies e relevos organizados de modo diferente. As pessoas? Costumes, culturas...mas são seres humanos de qualquer forma. Acho que nós, ao nos tornarmos mais adultos, com o inerente crescimento físico, o coração cresce. Forma-se um espaço, que o moço sente necessidade de preencher. Como? Interagindo com outros que sentem o mesmo vazio. Essa é a saída mais rápida, porém, há outros meios de preenchimento desse vazio inexistente. Atualmente, o caminho mais fácil é o mais procurado, álcool, entorpecidos, é isso mesmo, música! Beijos. O beijo, em sua essência, é algo mais puro, mais sublime. O que o ser humano faz? Como a física moderna e a bomba atômica, como a inteligência de Hitler e o nazismo, como tudo que poderia ser usado somente para o bem, mas tomou outro caminho. Banaliza aquilo que seria a mais perfeita tradução da paixão, da atração mútua, do contato. Criando um imã para o vazio do peito ardente. Nessa troca de beijos notívagos, os iniciantes da vida adulta se perdem no pequeno prazer que um beijo espontâneo ainda oferece mas que, entretanto, se mantém longe da volúpia e êxtase transcedental que um beijo apaixonado pode oferecer. A paixão, como diria meu amigo Rubem, faz com que a mistura das salivas tenha um paladar inefável, semelhante ao néctar mitológico. Isso mesmo. E é disso que as pessoas estão se esquecendo, aos poucos, só tende a crescer. A língua só ficará a procura do fel...já esquecido.