sábado, novembro 29, 2008

Incógnita

Dessa incógnita, que agora me permites escrever,
deixo implícita a marca ilícita de saber.
Faço-me ignaro, solerte, vil.
Vagando, escapo da loucura.
Desmanchando, em galhos no pueril.
E me refaço de retalhos do que já sentiu.

A interrogação, se um dia veio,
não foi de identidade, mas o por quê do feito.
Não que não te falte motivação, vontade...
Mas que o sentimento cale, te deixando muda,
louca de saudade...

segunda-feira, novembro 24, 2008

Carne sangra e pede mais daquilo que já viveu.
Vem a meu ser cheio de lembranças,
dúvidas cruéis do que ocorreu.
Vem a mim, vem ao labirinto!
Me deixa faminto, com sede por mim.

Do que viveu o gozo mórbido das coisas leves,
sorriu gritou, amou chorou, tudo breve.
A consciencia branda, num suspiro escreve,
o saudosismo alegre que a memória esquece.

Deixo lá e busco além, vou atrás de onde ninguém.
Viver o vivido, já sabido que esqueço ou que relembro,
vou a passeio, feito um louco, me esquecendo...

sexta-feira, setembro 12, 2008

Hora Passante

Ora me conheço, ora me desafio.
No momento me esqueço o minuto que partiu.

Não durmo horas, acordo em sonhos.
Hesitante, se vi o que vi!
A sensibilidade passeia, eu a ermo e vil.
Uns julgando mal, outros se vendo em mim.

Se no espelho reflete a aparência insensata que enobrece
A imagem de outrora esquece.
O vulto fugaz, sopro delinqüente.
Do momento sutil de realmente ser,
A ignorar convenções, realizo-me no presente.

Não mais contido, sendo o que em mim sente,
Estou eu despido do civilizado.
Embeveço, sublimo,
na incerteza do que sinto, eu desvairo,
incerto do que sou, eu desatino
Em um sorriso de ébrio
que muitas vezes calo.

quarta-feira, abril 09, 2008

Do acaso fez-se o pulso.
Forte, resistente, inscrito na graça do mar...
Que, como suas ondas, abalam e acalmam o pensar.
Bate na vibração da qual faz uso.
Escarra a maré que ora deu lugar.

Da cor azul um semblante leve a se esguichar,
deixa no céu o espectro da imensidão do meu querer,
Ao pulso, que comparo por ora, o meu viver.
Abraço mais doces ventanias e beijo grandes tempestades.
Saúdo vidas passadas e vivo todas amizades.

Problema Matemático de Uma Relação

Uma vez te amei.

Duas vezes errei.

Então, nós somei

Para depois diminuir.

A conta errada fiz

Não porque quis.

A matemática é vício

Num amor de suplício.

Elevei-te ao quadrado

De uma potência enésima.

Iludido com o resultado.

Enganado na décima

Vez que calculei

A multiplicação de mim.

O amor em ti enxerguei

Mais com mais assim...

Não deu mais e sim

O sinal de menos, em ti.

Sendo o produto no fim

Negativo também aqui.

Tu eras radiciação,

Polinômio

De quinto grau. Divisão.

Eu era potência.

Determinante da Matriz

Maior. Multiplicação.

E nós éramos equação,

Fórmula de Báskara,

Duas incógnitas. Função.

E dessa relação ficou eterna,

Na física moderna de nossas formas,

A geometria plana de uma circunferência,

Cícrculo, símbolo do infinito, nós,

Sem congruência.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Amiga dos Boêmios

Ela é a amiga que nos abre portas, abraça e chora.
Ela nos dá colo e afaga mágoas. Sorri com a gente.
Nas horas mais inexatas eu a busco sorridente.
E ela, na sua infinita companhia, me sorri na hora.

Eu passeio em sua existência até quando quente.
Ela, formosa e loira, encara minha boca, implora!
Eu a bebo em delírio, me exalto. A minha face cora.
Nas tardes de sol, gelada a sorvo. O paladar fremente

Qualquer ventura a comemorar, ela nos espera lá.
Nos dá malícia, esquenta a festa, vira um mandamento.
E nessa ajuda mansa, muitos vitupérios causou já.

É por essas e outras que agora ela cá está.
Então, eu lanço o copo ao alto e brado sedento:
Cerveja! Seja toda nossa neste momento!

domingo, janeiro 27, 2008

Perto Demais

Perto demais chegávamos. Distante ainda éramos.

A lua em um mormaço tínhamos

A sintonia de uma noite bela.

Eu tinha o humor e tu o riso.

Eu era sem siso e tu o pudor.

Tu eras mistério e eu caçador.

Tu eras bolero e eu dançarino.

Fui teu no teu primeiro sorriso.

Perto demais ficávamos. Distante ainda tínhamos.

A rua e os automóveis estávamos.

Pelos becos nos escondíamos.

Eu era o louco e tu o remédio.

Eu era deserto e tu o líquido.

Tu perdias o juízo, eu o cantador.

Tu te entorpecias no vício. Eu te beijava em tremor.

Foste minha no teu segundo sorriso.

Perto demais tínhamos. Distante ficávamos.

A cama e os lençóis éramos

Um par na música estávamos.

Tu eras chama e eu o pavio.

Eu nada mais era, tu nada mais ía.

Tu, minha, ainda vinhas. Eu, teu, ainda ficava,

Nessa vida rock’n roll que nos abraçava,

Fomos nós no teu terceiro sorriso.

Perto demais estávamos. Distante chegávamos.

O filme e os braços tínhamos

Ainda o carinho que éramos.

Tu ainda em mim eras, eu ainda em ti brincava.

Eu, teu, me inebriava. Tu, minha, já não estava.

Então, a cumplicidade nos sustentava

No romance bossa nova da nossa vida.

Eu me era em todos os teus sorrisos.

Perto demais, perto demais. Distante agora obrigados.

A cama, os becos, o humor, nada mais são. O braço.

A brincadeira é muda e o meu papo é vão. O filme.

A lua, ainda testemunha, reclama teu desfile.

A rua, minha fuga, me chama para um crime.

Eu sou crise de abstinência. Sou doido, sou paciência.

Com a distância, és em mim mais perto. Eu espero...

Volta e devolve o que levaste com teu último sorriso.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Brado Brado

A vida fala em meu ser loucura, suja muda a caminha dura. Eu invado e brado em meu peito alto, gargalho em galhos minha fama espúria.

Eu rebento forte, divago o norte do meu “futuro” dado. Caio em contradições, busco exacerbações de cada ação, esqueço do passado...

- Rebenta, menino, esquenta a doçura da vida que na tua frente senta! Toca em mim essa tal sinfonia do Carpe Diem.

Não me contenho em mim e desapareço nesse caminho que me guia ao mundo.

Eu bebo fundo, mergulho e salto no palco que em mim dança e clama o ar que respira e canta:

- Canta, menino espanta o amargo sal que o mal te serve! Suga do ar o suspiro breve da hora passante e escreve em mim o teu sorriso leve.

Insano, exalto a vileza mansa do gozo puro, num viver sem muro e calo o siso em cínico sorriso.

Deito libertino na graça do mundo. Acordo feras, durmo em exaustão e ainda exalo o calor cretino da devassidão.

Não porque sirvo à luxúria, não. Sim porque nem sou mais são, são ainda em mim a mão do clamor de viver, de querer, de beber...

- Bebe, menino leve! Serve ao mundo essa risada sincera, nem espera a piada dada. Ri deles que não bebem nada. Sorve em tudo essa alegria desvairada.

Não Obstante

Não obstante as minhas mãos me levarem a te escrever mesmo em descanso, eu calo em ti e mordo o pensamento em mim, extasio em um delírio manso.
Não obstante os dedos correrem sobre o papel , de modo insano, quererem descrever o que em ti tateiam, o que em mim acende, eu ainda assim respiro e queimo na volúpia que a tua imagem em mim transcende.
Não obstante os ouvidos serem cúmplices e musicalizarem em mim as notas soltas das palavras bobas e banais que escutam em ti, eu ainda assim sorrio e inebrio o som que de ti sai em gírias chiadas em meio a gargalhadas, tocando em mim cantante desvario de leviana graça.
Não obstante escutar Chico sozinho seja em mim uma completa nostalgia do que ele é em ti uma grande poesia, eu ainda assim violo a caneta e toco sobre o papel a harmonia da lembrança em ti.
Não obstante o olfato respirar em mim a essência da pele fremente que sente em ti, eu ainda assim sugo no ar vazio o cheiro do teu corpo e tremo, quedo alucinado na libido em mim que a delirar em ti me obriga.
Não obstante a boca só querer provar em mim o néctar de teu seio estreme, o paladar dos teus lábios sorridentes, eu ainda assim bebo em ti a tempestade do teu corpo candente, relampejando em mim a lascívia do romance presente.
Não obstante serem tomados de mim todos os meus sentidos por ti, eu ainda assim me sinto, eu ainda assim me entorpeço, ao te tomar em tato vil, ao te amar eu esmoreço...
...em nós.