terça-feira, agosto 22, 2006

Águas de um Asfalto Seco

A vela apagara...
A avenida não foi asfaltada em todo seu trajeto.
A esperada surpresa da bifurcação acabou chegando,
no momento em que ele ainda não tinha conseguido seu próprio veículo.
Ela, já estava em certo automóvel quando ele ainda trilhava somente de pé.
O aceno fraco, desconsiderado, indiferente, que sumiu
no horizonte do infinito, junto com o veículo.
Demorou para ele que, talvez por efeito do sol lancinante, teimava em dizer que estava lá.
Contudo, aquela imagem começou a falhar, a piscar...
Ainda de pé, começou a duvidar da veracidade daquilo.
Dúvida essa que para ele, não era capaz de existir.
Atormentado por isso, continuava de pé, seguindo somente a faixa central de sua estrada,
contínua, que não permitia ultrapassagem.
Choveu! Sol fraco! Mirando o horizonte da outra estrada que se afastava cada vez mais.
Constatação, o aceno sumira. Para percorrer seu novo trajeto, ele precisava de algo real...
E foi olhando para o acostamento de sua própria estrada, que achou certo veículo.
A imagem, por vezes, piscava na sua frente, mas ele não queria mais o infinito da estrada dela.
Placa: "Permitido Ultrapassar". Faixas descontínuas.
O Sol do seu horizonte, do seu interior, da sua mente, nascia.
Enquanto o da outra pista já estava em Crepúsculo.
Em alta velocidade, passou a escutar a canção formada pela natureza.
Dirigindo com a insanidade sadia de sair sabendo que depois do salgado pode vir o doce!
Que depois da agonia vem o alívio,
depois do choro, pode vir o riso,
do sono, vem a vigília,
do sujo, vem o limpo.
E que a quebra de um espelho, não quebra o reflexo.
Tudo isso podia ser decidido por ele, pois era ele quem estava no volante...
quem determinava a velocidade, a direção, se o o pára-brisa ficava embaçado ou limpo.
E contemplou, com doce saudosismo, o passado se afastando pelo retrovisor.
Sabia que elas ficariam ali, as memórias boas.
Entorpecido, inebriado pelo vigor da esperança, da incerteza do horizonte, do caminho, do trajeto, da vida, ele mirou o infinito, sagaz para dar carona a um novo alguém que quisesse percorrer a nova estrada, que lhe indicasse o caminho vez por outra e que tivesse paciência de passar pelos buracos só para chegar no encontro das linhas paralelas, que apresentava-se distante, porém lindo no horizonte.
De repente, um novo aceno, diferente, impávido, desafiador...Será?
Encostou, abriu o casulo e...
Acendeu outra vela...

2 comentários:

Anônimo disse...

A mais hamônica lira, o melhor quebra cabeça de letras ou a mais simples frase....São sem sombra de dúvida originados dos sentimentos mais puros que um poeta pode expressar..Mesmo de difícil entendimento todos os textos são lidos e analisados.. Para isso o analisador ou leitor precisa incorporar o escritor, ou entrar em sua alma, mente, coração..e etc. E é nessa viagem prazerosa que conseguimos descobrir sentimentos diversos, permeados de emoções...seus textos são verdadeiramente complexos, no entanto regados de sabedoria.

Anônimo disse...
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