quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Dona de Casa

Andréa era daquelas mulheres batalhadoras, determinadas, mãe solteira de 2 filhos, tudo que ela conseguira na vida tinha sido com seu prórpio esforço. O que lhe conferia essa "garra" toda era o simples fato de não ter ilusões nenhuma na sua vivência , se dizia "realista". Cedo começara a trabalhar como caixa em uma pequena papelaria, mais tarde, com muito esforço, tornou-se gerente. Cética em relação a religião sempre dizia: "Meus filhos, Deus num dá nada , quem dá é o suor do côro da gente!" . Entretando, por trás de toda aquela dureza, à noite, Andréa se entregava às lágrimas, não sabia o por quê daquilo, uma emoção apática , inexorável , vazia, tomava conta do seu ser. Certa noite sonhou, estava ela a andar por um campo dotado de uma vegetação rasteira, avistou mais a frente um portão azul celeste, começou a correr em direção a ele, mais perto, pôde observar que estava escrito a palavra "Vida" no portão, entrou . Sentiu-se numa espécia de cinema onde ela era a espectadora. Observou apenas uma criança, no começo de seu destino, engatinhava, após algum tempo, começou a andar, caía , bastante, porém não desistia, mais tarde estava correndo...Acordou com o despertador. Passou o dia todo pensando no sonho. Lembrou-se de quando começou a trabalhar na loja, não sabia quase nada de administração, atualmente, ela que comandava todo o processo ali. Lembrou dos seus filhos, das dificuldades enfrentadas e superadas com eles. Do sorriso de cada um quando ela chegava com um presente, por mais barato que fosse, em casa. E se sentiu novamente no sonho, sendo espectadora de toda sua vida, sendo que daquela vez era real. De repente a imagem de seu ex-marido lhe veio a mente, recordou os bons e maus momentos que passou ao lado dele, lembrou tambem de seu amigo de infância, José, que uma vez por mês aparecia na sua casa para falar de como andava sua vida e tomar cerveja, como era bom rir com ele. Já na sua cama, à noite, a emoção lhe preencheu novamente o coração, porém, não era mais um sentimento vazio, com um sorriso no rosto, as lágrimas caminharam num ritmo dançante pelo rosto daquela brasileira de 26 anos, por ironia, seguindo as notas de uma música que tocava no bar da esquina: " Viver e não ter a vergonha de ser feliz , cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz . Eu sei que a vida deveria ser bem melhor e será , mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita...".

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito felizinho.

Anônimo disse...

Achei profundo e inteliggente, vc entrou no mundo de tantas Marias e fez um paradoxo do cotidiano com tanta sensibilidade coroando o final com a belíssima música do inesquecível Gonzaguinha. Bj Mela.....