sábado, abril 08, 2006

Noite que acolhe

Não sinto vergonha em dizer que tens razão,
quando me jogas essas palavras na alma,
me empurrando contra a noite que aguarda
fria e escura. Ouso dizer que não te abandonei,
que foi a fuga de uma realidade tomada pelo tédio.

Eu , mais do que qualquer uma, estive aqui
e não procurei evasão nenhuma. Agora, o que fazes?
Converte lágrimas dantes doces, em salgadas.
Minha vã confiança. Isenta da temerosidade
do profano, agora, escorre pelo rosto de uma alma abandonada.

E todos os agrados que mirifiquei? Procurando
de ingênuo modo, pôr emoção na tua vida.
Já me entregas todas minhas vestes para que
eu possa sair sozinho, pela porta que um dia entramos juntos?
O futuro nosso escorre sobre a face arrependida.

Nada do que fizeste para crescer minha felicidade
justifica o descaso teu com o sacramento.
Posso dizer que meu esmero limpa minha consciência.
E , ordeno, vai-te em boa hora, que eu refuto teu lampejo.
Deixa-me aqui, esperando outro senhor, que há de vir.

Ciente de todo pesar, eu vou pra não mais voltar.
Mas de tudo que resta, é bom que fiques sabendo:
teu pranto lava os trapos da cupidez malina de minh'alma
trêmula e vil. Não sou mais merecedor de todos teus arcanos.
Abraçarei a solidão da noite e levarei comigo todos os danos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu Deus! To impressionada... não conhecia esse teu lado poeta! Mas parabéns, viu? Você, além de ser uma amigo maravilhoso, tem o dom de saber usar as palavras!
Um beijo grande!
Kátia

Anônimo disse...

Achei que lembra a música "Bilhete", do Ivan Lins, que por sinal é uma das melhores da MPB.

Só que o Ivan Lins foi um pouco menos derrotista... Essa poesia está mais trágica, mas também gostei. =)