domingo, dezembro 06, 2009

O Noivado de Luiza

O acaso sempre apronta comigo. Não que eu não tenha gostado algumas vezes. Sim, algumas eu apreciei, de fato. Mas quando essas surpresas nos traz infortúnios, é aí que mora o perigo.

Vinha eu descendo pela Visconde de Souza Franco, saindo da farmácia, tinha ido comprar uma Vitmaina C e alguns surpéfluos. O chocolate me entorpece tal qual uma dose de Uísque.

Sempre gosto de observar as expressões faciais dos transeuntes da rua. Dependendo, de cidade para cidade, as pessoas tendem a ter um ar mais sisudo ou mais alegre. Como as de São Paulo e as do Rio de Janeiro, respectivamente. Baixo a cabeça e observo a sacola da farmácia, a barra de chocolate, não me contenho e vou adiante, a comê-la. E, quando estou a degustar o primeiro pedaço, sorrindo clandestinamente em meu regozijo interior, escuto: “Peeeeedro!! Não acredito!!”, com uma das mãos na cintura e o olhar perplexo, Luiza pousa a outra mão em meu ombro. Sorrio, entre embevecido – pelo chocolate – e nauseoso – pelo momento.

“Tudo bem, Luiza?”

“Tudo bem sim. E contigo? Por onde tens andado? Falei com tua irmã alguns dias atrás no shopping.”

“Minha vida não mudou muito. Estou 5 kg mais gordo e comecei a malhar. E tu, namorando ainda?” , a velha curiosidade da dor de cotovelo.

“É. Estou noiva, olha!”

Estende as mãos com galhardia para exibir a porra do anel. Chique! Um diamante solitário que quase me cegou.

“ Legal. Bom, parabéns! Enfim, Conseguiste o que tanto querias.”

“Ah, Pedrô! Já vai começar? Pára com isso. Vamos tomar um café juntos?”, ela pergunta naturalmente.

“Boulevard?”

“Sim, pode ser.”

No caminho do shopping, pude observar o sorriso irônico no rosto da filha da puta. Namoramos 7 anos e há 10 meses estávamos separados. Desde que ela conhecera o porra do advogado. Outro filho da puta! Dar em cima da namorada dos outros...

Conheci Luiza na época do convênio dela. Eu tinha 21 e ela 17. Fez sinal, entrou no meu táxi. Foi uma corrida de 30 min. E nos apaixonamos. Não durante a corrida, é claro. Mas foi o ensejo para que eu a convencesse a sair comigo. Ela era de classe média e eu também. Como tive uma adolescência desvairada, meu pai me deu um táxi para eu não virar vagabundo. Hoje, olhando Luiza com o anel, me arrependo.

“E o coração? Nem uma namoradinha ainda?”

“Não, não. Quero distância de relacionamentos agora. Tô só comendo mesmo.”
“Credo! Seu grosso!”, com um tapinha nas minhas costas.

“E o Advogado? Como tem se saído contigo? Sabes que és barra pesada.”

“Ah, é mesmo! Eu sou um amor, meu bem.”, eu que o diga! Como sentia saudades de cair de boca naquela boceta.

“Ah, ele é muito carinhoso e atencioso. Faz todas as minhas vontades. Sou muito mimada.”

“Cuidado, esses assim são os piores. Deixam a mulher bem à vontade e metem chifre com outras que ela nem percebe.”

“Tu vais continuar com isso? Eu vou embora agora!”

“Calma! Só fiz uma observação.”

Enfim, chegamos às Mulatas, na praça de alimentação. Puxei a cadeira para ela sentar. Sempre puxo a cadeira para uma mulher sentar. Gosto de ver o movimento do seu quadril durante o ato, a inclinação voluptuosa que me remete a pensamentos libidinosos. O coração do homem é terra que ninguém anda.

Peço Capuccino. Ela, suco de laranja. Pego em suas mãos, ela sorri amistosamente, a encaro com doce fulgor:

“Ainda pensa na gente?”

“Claro! Sinto saudades todos os dias. Foste muito importante na minha vida Sabes disso... mas, as coisas acontecem como devem acontecer.”

“Não falo disso. Ainda pensas em mim, como namorado?”

“Ah, Pê! Não, né?! Agora eu tô com o Osvaldo.”, filho da puta! “Por quê, tu pensas em mim assim ainda?”

“Não, não. Mas também sinto saudades. Pê. Meu apelido favorito.”, ela sorri cínica.
Quando eu de fato namorava Luiza, não imaginava um dia perdê-la definitivamente. Ela sempre demonstrava ser apaixonadíssima por mim. Era carinhosa, cozinhava bem e, o melhor, fodia maravilhosamente. Com ela, não tinha frescura! Chupava meu pau e engolia o sêmen como quem toma um sorvete de cupuaçu. Olhando-a ali, tomando o suco de laranja pelo canudinho, lembrei disso.

“Tinha vontade de foder mais uma última vez contigo. Só mais uma.”

“Que é isso, Pê!!! Agora eu sou noiva.”

“ Foda-se. Sei que ele não deve te foder como eu. Fala a verdade, éramos estupendos na cama!”

“Isso não vem ao caso. O importante, além do sexo, é que ele é carinhoso, faz todas as minhas vontades, eu sou o mundo dele...”

“Mas não te fode gostoso!!”

“ Tá vendo? Por isso te deixei. Pensas que os relacionamentos são baseados somente em sexo! E com essa linguagem chula!”

“Não, mas quando o sexo é bom é 70% do caminho andado. Outra coisa, ninguém chupa uma boceta como eu.”

“Mas tu és baixo, hein, Pedro! Nunca vi!”, olhando para o lado com o biquinho que eu tanto aprecio.

“Vamos, Luiza, uma despedida. Derradeira. Deixa eu sentir teu gosto mais uma vez. Assim eu me conformo.”

“Não! Fica com as lembranças que já tens.”

“Sabes que eu sou insistente. Penso nisso quase todo dia.”, acariciando levemente as mãos dela.

“ Quase todo dia? Ah, então não é tão urgente assim.”, disse, já com um sorriso de elogiada, disfarçando o impulso de ir adiante no assunto.

“Eu quero teu corpo, o teu beijo suado. Quero escutar o teu gemido lascivo por mim!”

“Lembras ainda como eu gosto?”, já permitindo minha carícia em seus braços. Sorrio fogosamente.

Luiza sempre fora paradoxal. Era educadíssima na frente dos pais, mas adorava dar o cu. Por vezes, meu pau ficava mofino de tanto tentar satisfazer sua voracidade sexual. Na verdade, hoje pensando, ela gostava mesmo era do meu pau. Somente do meu. Do advogado não.

“Bom, Pê. Deixa eu ir, tenho que pesquisar as datas disponíveis na Basílica para a cerimônia. Muito bom te encontrar, viu?”, levantando-se vagarosamente enquanto eu ainda segurava com leve ardor sua mão direita.

“Tá certo. Posso dizer o mesmo. Meus mais sinceros votos de felicidade pra ti, Luiza.”, ou seja, que tu te fodas!

“Obrigado! Beijo!”, inclinando-se para beijar meu rosto. Eu a puxo sutilmente e vou ao ouvido, num sussurro:

“Sabes que sempre vou tá aqui, né?”

“Sei...”, e vai se afastando, com o rosto coradinho, a fodida.

Fico sentado, finalizando meu capuccino por mais alguns minutos. Acendo um prazeroso cigarro. O gosto da boceta de Luiza me vem aos lábios. Peço um chopp. Observo a garçonete agachando-se para juntar algo do chão. O quadril. E na fumaça do cigarro, todos os gemidos de Luiza evaporam-se.

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