sábado, maio 17, 2014

Reticências

A noite assobiava com um chuvisco fino a rua. Fiquei parado em frente a casa dela, entre ansioso e pensativo. Ela vem. As vezes é bom ser absorvido por essa sensação de não conseguir verbalizar o que se sente. Como se não fosse possível botar em palavras a beleza dela naquele momento. Tão linda e tão simples! Revisei todo seu rosto com meus olhos, beijei a face levemente e fui conduzindo o carro. Chegamos a praça do canavial, a qual tinha um mirante para o mar. O céu nos presenteava com algumas estrelas e a chuva já parara. Acarinhei seus cabelos com uma suavidade de escultor:
- Hoje eu sou todo curiosidade.
Ela sorriu, baixou a cabeça um pouco desconcertada:
- Nós vivemos entre feras!
- O leão é o meu animal favorito.
- Acho que o meu é o guaxinim.- e deita a cabeça no meu ombro.- Por que estás curioso?
- Teus lábios reticentes...
Ela sorri novamente, turva. Mira meu rosto, me consome. Não lembro muito bem onde estávamos, se no carro ou fora dele, quando o beijo aconteceu, mas eu guardei aquela noite, aquele assobio, e aquele céu de estrelas no bolso, perdido por entre florestas e rugidos indecifráveis...

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